sábado, 10 de julho de 2010

Quando a brincadeira se torna maldade - Bullying

Termo ainda não traduzido para a língua portuguesa, o Bullying é comum no mundo todo entre crianças, adolescentes e adultos.

Qualificado como um comportamento agressivo sem motivo, caracteriza-se sobretudo pela manifestação da agressividade de diferentes maneiras, como espancamento, humilhação e intimidação de alguém sempre seguido por sensação de prazer por parte de quem pratica. O Bullying pode se manifestar de forma verbal, física, psicológica e sexual. A maneira verbal é caracterizada, sobretudo, pelo uso de apelidos a chantagens, a física pelas agressões, a psicológica pela intimidação e a sexual por assédios, por exemplo. Esta última forma é mais comum entre adultos e adolescentes.

Embora não possa ser considerada doença ou transtorno comportamental, a prática do Bullying pode estar associada a uma psicopatologia. No entanto, é necessário que ela se torne constante pra que alguém seja classificado como participante do Bullying.

Existem três tipos de participantes: o autor (também chamado de agressor), o alvo ou vítima e o espectador ou testemunha silenciosa. Para diferenciar tais comportamentos de um desentendimento possível e aceitável entre crianças é preciso atenção. As vezes a criança tem uma atitude agressiva com um coleguinha, mas isso não traz um sofrimento para o outro. A diferença é que no Bullying a criança passa a perseguir com certa freqüência um determinado colega, consciente de que está causando sofrimento a ele. Não se caracteriza por um acontecimento isolado, é algo constante, persistente.

Comuns nas brincadeiras de crianças, os apelidos podem ser um indício desse tipo de comportamento. No Brasil, as pesquisas mostram que a maior causa de Bullying são os apelidos. é algo que dificilmente a gente vê as escolas trabalharem com as crianças e com os pais. Os apelidos merecem atenção sempre que gerarem incômodo e constrangimento.

Não existe idade para o Bullying, desde cedo à criança tem capacidade de perceber quando seus atos magoam alguém.

Desde pequena, por volta dos três, quatro anos, quando a criança está com um colega e não quer emprestar um brinquedo, ela percebe que o outro ficou bravo com ela, que chorou. Mas a noção propriamente dita tem início quando a criança começa a freqüentar a escola.

Por volta dos sete anos a criança passa a ter melhor compreensão do contexto em que está inserida. é quando percebe que outras crianças riem e observam as maldades que pratica começa a se exaltar por isso. Quando bate em alguém e outras crianças dão risada ela passa a ver isso como um reconhecimento e se o comportamento continuar sem intervenção dos pais ou da escola vai se reforçar com o tempo.

O respeito imposto com o medo é visto como uma vantagem e isso pode ser mantido até a vida adulta. Nesses casos, a grande dificuldade de se colocar no lugar do outro não se desenvolve naturalmente com o passar do tempo. O agressor tem grande dificuldade de se vincular afetivamente. Geralmente, as crianças e adolescentes agressores vêm de famílias desestruturadas, que usam a violência como modelo de correção e resolução de problemas. Os pais são pouco afetivos e, por isso, os filhos não têm um modelo de afetividade para seguir.

Características genéticas e sexuais também podem determinar o agressor. Sabemos que os meninos são mais agressivos e se envolvem mais com o Bullying. Mas ainda existe a contribuição de sociedade e da mídia, principalmente com desenhos animados cada vez mais agressivos.

Muitas vezes o jovem não sente necessidade de se sentir temido, mas sente prazer em observar outras pessoas serem agredidas, é o caso da testemunha silenciosa. O espectador sente medo de também apanhar ou ser ridicularizado. Então se afasta e não toma nenhuma iniciativa para proteger o colega porque tem medo do que pode acontecer com ele. Mas muitos gostam de ver o outro apanhar.

Se comprovado que uma das causas do Bullying seja um transtorno psicológico o tratamento deve ser medicamentoso (feito por um psiquiatra) e com acompanhamento de um psicoterapeuta.

Normalmente a vítima do Bullying apresenta características físicas diferentes da maioria. Também costuma ser tímido e ter dificuldade de se relacionar. As vezes é um pouco mais gordinho, usa óculos ou tem os cabelos de um jeito que não é considerado bonito. Então não fala sobre o que acontece com ele, seja na escola ou em outros ambientes. Por isso, é difícil identificar a prática.

O Bullying pode ser considerado também como prática de preconceito. Alguns apelidos são associados ao preconceito e são vistos pelas crianças na mídia, na família ou em outros grupos que estão inseridas. Quando a criança é constantemente ridicularizada ela se trona cada vez mais tímida, com baixa auto-estima e nos casos mais graves pode chegar ao suicídio.

Geralmente a criança agredida tem dificuldade de se expressar e medo de contar sobre as agressões para um adulto. Por isso, os pais devem conversar com os filhos e dar atenção ao que eles dizem. Se os pais forem bons observadores vão notar comportamentos diferenciados na criança, como tristeza, apatia, vontade de não ir à escola, pedidos para mudar de sala, o rendimento começa a cair. Além disso, é comum relatar medo, insônia e dificuldade de dormir. Tais mudanças não podem ser vistas como uma fase relacionada ao desenvolvimento da criança.

Ela também, não deve ser criticada pelos pais por ter sido agredida. Alguns pais humilham o filho quando o repreendem dizendo que ele não deveria ter se deixado ser agredido. Outro motivo que faz a criança se calar é a impunidade, pois muitas vezes o agressor não é repreendido e volta a agredi-lo de forma mais intensa.

Nos dias atuais os pais trabalham muito e têm dificuldades com o tempo de parar para ensinar o filho sobre respeito, cidadania, igualdade e direitos. Mas seria muito importante que eles visitassem a escola para saber sobre o comportamento do filho e que também reavaliassem o seu estilo de vida e seu próprio comportamento em relação a seu filho.

Daniela Lopes Rosas - Psicóloga Clínica

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